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Orações e Terços
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14/01/2012
CANTO GREGORIANO
Codificado pelo Papa São Gregório Magno


Única “Esposa preparada para as núpcias do Cordeiro” (Apoc. 19,7-8), a Santa Igreja Católica faz subir até NSJC, o seu divino esposo, um canto digno d’Ele, um canto que exprima todo o seu louvor, toda a sua adoração, todo o seu amor para o seu Salvador.

        O seu canto litúrgico, sublime, Sagrado, inspirado, toma o nome de Papa São Gregório Magno, que o codificou.

         É o “Canto Gregoriano”.

        No principio deste século, outro Papa santo, restituiu ao canto da Igreja a sua primazia, a sua inimitável beleza que artifícios musicais e iniciativas profanas o tinham feito murchar. Foi São Pio X, que assinava no dia 22 de novembro de 1903, na festa da Santa Cecília, o seu Motu Próprio “tra le sollecitudini”, sobre a música sacra.

Estes dois Papas, canonizados, lembraram à cristandade, as características próprias, essenciais deste tesouro inestimável que é o canto da Santa Igreja.

- Ele ultrapassava todas as melodias da terra. ( I )

- Ele é o “canto próprio da Igreja romana”. ( ll )

 

    I.                 PERFEIÇÃO DA MELODIA GREGORIANA

    1)Testemunho de músicos célebres

        Poder-se-iam multiplicar as citações dos grandes compositores que admiravam as melodias gregorianas:

     BEETHOVEN escrevia: “Para compor uma verdadeira música religiosa, estudei os antigos salmos e cantos católicos...”

        GOUNOD dizia: “Fiz música religiosa, não fiz música de Igreja”; e exprimia em seu testamento a vontade de não ter em seus funerais, senão canto gregoriano.

     HALEVY até afirma: “Nunca compreenderei que o clero, possuindo este magnífico tesouro do canto gregoriano, tenha o mau gosto de adquirir outros nas igrejas”.

           MOZART daria, no leito de morte, todas as suas obras ( as obras de Mozart!) pelas serenas e puras melodias gregorianas da Missa de Réquiem.

         WAGNER, entrando um dia na Catedral de Notre-Dame de Paris, durante uma Missa, ficou espantado pela beleza dos cantos; perguntou, no fim da Missa, quem tinha composto aquela obra; era o próprio duma Missa gregoriana; confessará mais tarde ter-se inspirado às vezes em temas gregorianos.

 Esta beleza do canto gregoriano, atestada ainda por vários autores clássicos, é o fruto de qualidades objetivas.

 
a)  As qualidades do canto gregoriano

    São Pio X, definindo no seu Motu Próprio a finalidade do canto gregoriano, precisa também as suas qualidades: “A música sacra, como parte integrante da Liturgia solene, participa do seu fim geral que é a glória de Deus e a santificação dos fiéis. (...) Por isso a música sacra deve possuir, em grau eminente, as qualidades próprias da liturgia, e nomeadamente a santidade e a delicadeza das formas, donde resulta naturalmente outra característica, a universalidade”.

b)  A santidade

Como pode uma música ‘possuir a santidade’? A palavra ‘santidade’ vem do latim: “SANCIRE”, “consagrar a Deus”. Neste sentido, uma música Santa possuirá as qualidades duma coisa consagrada a Deus, reservada a Deus (como uma Igreja, um cálice, etc...; mais ainda, uma música Santa conduzirá até Deus, será como um intermediário entre Deus e aqueles que a executam ou a ouvem; como as palavras inspiradas dum santo pregador, ela produzirá nas almas o desejo de se converterem, e de conhecerem e amarem mais a Deus.

“Tal árvore, tais frutos”. A música não escapa a esta regra. Verifiquemos isso procedendo” a contrário”:

- No verão de 1989, os filhos de duas famílias americanas do Nevada suicidaram-se depois de terem ouvido, durante a noite, as canções do grupo “ hard rock” “ Judas Priest” (isto é ‘o sacerdote Judas’).

- Em 1984, um americano de 19 anos suicidou-se depois de ter  ouvido a canção “ Suicide solution ” do cantor OZZY Osbourne.

-  5000 (!) jovens dos Estados Unidos suicidaram-se durante estes últimos anos depois da audição de “ hard rock ”, acusa o Padre Regimbald, religioso do Canadá, especialista em psiquiatria criminosa.

- O número dos suicídios entre os 20 e 35 anos ultrapassa agora o dos mortos em desastres de automóvel !

- A perversão sexual, o chamamento à revolta contra a ordem estabelecida, a sugestão do suicídio, a incitação à violência, ao homicídio e a droga são características habituais dos concertos de rockn’roll, observam os sociólogos...

Assim, se a influência da música sobre as almas é uma realidade tal que pode chegar até a uma trágica perversão, não terá ela também o poder, ao contrário, de conduzir as almas até a contemplação da Santidade e da Beleza divina?

É o poder do Canto da Igreja. Ela é Santa quanto à sua origem, seu conteúdo, e os seus frutos;

- A sua origem e o seu conteúdo são: Os Salmos, os textos da Santa Escritura, a Salmódia dos monges, os cantos dos primeiros cristãos, realidades espirituais.

- Os seus frutos são: A calma, a serenidade, a paz sobrenatural (cf a Missa de Réquiem, os quiriés...), a alegria em todos os seus graus, desde a do Tempo do Natal até à da Ressurreição, a conversão dos corações:

“Quantas vezes, Senhor, chorei, diz-nos Santo Agostinho, ao ouvir hinos e cânticos, profundamente comovido pelas vozes que ressoavam na Vossa Igreja; estas vozes penetravam nos meus ouvidos, e a Verdade no meu coração; excitavam sentimentos de uma ardente devoção, e lágrimas que me transformavam ”.

Um dia, contou-nos um monge, um protestante entrou na Igreja dum mosteiro beneditino, durante o canto do Ofício monástico; no fim, saiu muito emocionado, dizendo: “Ouvi a Igreja cantar !... ”.

Converteu-se pouco tempo depois à religião católica. Traduzindo os sentimentos mais nobres da alma cristã, também o canto gregoriano é  santo pela sua pureza melódica; pois ele dirige-se à parte superior da alma ( contrariamente aos artifícios musicais atuais que excitam a sensibilidade e as paixões ordinárias do homem ); a matéria sonora não existe só para ela própria, mas está inteiramente ao serviço do espírito.

 
c)   A delicadeza das formas

Sem entrar em considerações técnicas, enumeremos o mais simplesmente possível as características próprias da melodia e do ritmo gregorianos:

- A melodia gregoriana é diatónica; isto é nunca apresenta uma sucessão de vários meios-tons, que utiliza abundantemente a música moderna para pintar os sentimentos violentos ou langorosos do coração humano. Este processo significa alguma coisa incompleta, instável, completamente diferente do espírito gregoriano.

- Absoluta liberdade. Não é uma cadência rítmica ( é a melodia que é  rainha, não o ritmo ), nem processos que limita o compositor, nem um tema inicial que determina a melodia gregoriana, mas sim o sentido  do texto sagrado, a inspiração religiosa, o amor a Deus movido pela graça. É por isso que sua liberdade de expressão nunca ultrapassa a medida.

- Nenhum “efeito de surpresa ” (síncope,...). O seu “legato ” e o valor quase igual das suas notas conferem ao canto gregoriano uma serenidade, um aspecto de tranqüilidade imutável que o coloca acima das agitações da terra.

Regularidade que não seja mecânica mas, antes, analogicamente, a do vôo dos pássaros, do movimento das ondas do mar e dos ruídos do vento, que são inscritos na criação.

Pelo seu ritmo livre, a recusa do efeito técnico, e a importância capital dada ao texto sagrado com que a melodia se harmoniza perfeitamente, “o canto gregoriano possui uma serenidade, uma suavidade, uma simplicidade, uma liberdade, uma firmeza, uma nobreza e uma plenitude incomparáveis ” (Dom Coudray, “ Método de canto gregoriano” ), onde se conjugam a Verdade e a Mansidão divinas.

Desta delicadeza das formas e da sua santidade nasce espontaneamente  a universalidade no tempo e no espaço, universalidade que é da Santa Igreja; pois o canto gregoriano é “ o canto próprio da Igreja Romana ” (S. Pio X).

 
II - O CANTO PRÓPRIO DA IGREJA ROMANA

    Oração litúrgica oficial da Igreja, o canto gregoriano é também um maravilhoso comentário da sua Doutrina.

 
1)A “Oração cantada da Igreja”

 Esta expressão, de Dom Gajard, resume o que é o canto gregoriano.

“Isto ultrapassa infinitamente a música, dizia a Dom Gajard, em Solesmes, um chefe de orquestra eminente de Paris, à saída de uma Missa conventual.

Pois este canto É uma oração.

São Tomás de Aquino define assim a oração: “Um movimento da alma em direção a Deus”;

Uma alma que reza, afasta-se deste mundo, lança-se em direção às realidades eternas do Céu para se repousar em Deus. Ora, tal é precisamente a razão de ser do ritmo livre da melodia gregoriana que acabamos de evocar; sob a inspiração da graça, a Igreja dirige-se ao seu divino Esposo pelos sublimes “ accents ” de Esperança, de adoração, de compaixão e de Amor do seu canto sagrado, para se repousar Nele.

No canto gregoriano, estes movimentos de ascensão para Deus e de repouso místico n’Ele têm um nome: são as “elevações iniciaise os “repousos finais”, as “arsis” e as “tesis ” cujas sucessões livres constituem o fundamento do ritmo gregoriano; é o análogo do movimento da Alma da Igreja em direção a Deus.

Assim “a arte gregoriana é muito mais do que música, muito mais mesmo do que uma oração entre outras; porque é A oração da Igreja ” (Dom Gajard, Diretor do Coro de Solesmes durante 40 anos, in “ L’expression du chant grégorien ” ).

 “Abertura à vida mística” (A. Charlier) da Igreja, o canto gregoriano participa essencialmente, ontologicamente, do “fim geral da Liturgia solene: a Glória de Deus e a santificação dos fiéis ” (S. Pio X , op.cit.) apesar mesmo da ausência de competências técnicas especiais; porque é A oração da Igreja, mais ainda do que a perfeita interpretação de uma determinada  “schola cantorum ”.

Santa Cecília cantava na sua alma os louvores de Deus, durante o banquete pagão das suas bodas; foi este canto interior, todo espiritual, que lhe valeu o título da “Padroeira da Música Sacra”.

Tal é o mistério e o segredo do canto gregoriano; é por isso que a sua melodia ultrapassa as da terra. Por ele, o Louvor da Igreja triunfante do Céu e o da Igreja militante da terra não formam senão um só; os coros angélicos se juntam com os coros da terra num só canto, numa só voz: a da Santa Igreja católica.

É o que canta o sacerdote no fim do Prefácio da Missa: “ CUM Angelis et Archangelis... ”, “ EM UNIÃO COM os Anjos e Arcanjos, COM os Tronos e Dominações, COM toda a milícia celeste, CANTAMOS o Hino da Vossa Glória,repetindo sem cessar: Sanctus, Sanctus, Sanctus... ”

 
2) O comentário musical dos mistérios cristãos

        A melodia gregoriana nasce do texto sagrado como uma flor do seu caule. Ela é como um “catecismo musical”, um comentário inspirado dos mistérios revelados por Deus. A alma cristã pode descobrir tesouros de ensinamento nas peças gregorianas cantadas pela Igreja durante os diferentes tempos litúrgicos: O Advento, o Natal, a Quaresma, a Paixão, Páscoa...

Os grandes dogmas da Encarnação e da Redenção tornam-se mais acessíveis pelo canto gregoriano; ele até nos faz penetrar tão intimamente nos sentimentos do Salvador durante a sua Paixão, por exemplo, que cantos como os Impropérios, o “Christus factus est”, o “ecce lignum”,... tornam-nos como testemunhos privilegiados dos seus sofrimentos com Maria, S. João...

A Igreja é o mistério de Jesus Cristo continuado.

Na noite do Natal, a “voz da Esposa” faz-nos reviver a alegria espontânea dos pastores maravilhados de Belém, a adoração dos Reis Magos e o mistério inefável do Menino-Deus.

No dia da Páscoa, o Allelúia traduz divinamente a alegria exultante da Igreja que contempla o Salvador ressuscitado.

Todos os domingos o “Asperges me”, o Kyriale da Missa (Kyrie, Glória, Sanctus, Agnus Dei) dispunham tão admiravelmente os fiéis à renovação do Sacrifício da Cruz sobre o altar!

“Dispunham”, pois em quase toda a parte as paróquias abandonaram este tesouro transmitido pela tradição da Igreja durante séculos, que tristeza!!

 

Que músico alguma vez compôs cantos de súplica à Misericórdia divina mais belos que os quiriés gregorianos do princípio da Santa Missa? Onde estão hoje os magníficos hinos dos Tempos litúrgicos? O “Rorate Coeli” do Advento, o “Adeste fideles” do Natal, o “Attende Domine” da Quaresma, o “Filii et filiae” da Páscoa, etc, desapareceram quase por toda a parte. Todavia a sua melodia é tão acessível e tão enriquecedora para as almas! Tantas gerações se santificaram cantando estes hinos!

Na minha terra (a Bretanha), quase todos os paroquianos (que não eram “especialistas de gregoriano”) sabiam cantar de cor (antes do concílio vaticano II) todo o Próprio da Missa de Réquiem (Intróito, Gradual, Trato, Dies Irae... ), substituída hoje por uma “liturgia” tão pobre como de mau gosto. “

A Missa gregoriana dos defuntos é triste!”, pretendem alguns.

Cantaram-na? Confundem serenidade em frente da morte com tristeza. Qual é a pessoa de boa fé que pode dizer que o canto da Comunhão desta missa e que o “in Paradisum” não evocam mais a Esperança do que o desespero dos pagãos ou a falsa alegria dos “ Allelúias ” da liturgia atual?

 Quantos são os jovens hoje que sabem cantar em honra do Santíssimo o “Tantum ergo”, o “O Salutaris Hóstia”, o “Adoro Te”, obras tão profundas, tão belas como simples e que ensinavam ao povo cristão a devoção e o respeito para com Jesus Sacramentado?

    As reformas litúrgicas atuais tiveram, sobretudo, como conseqüência um empobrecimento da Beleza do culto católico e, logo, uma diminuição da devoção (“Cantar bem é rezar duas vezes”, dizia Santo Agostinho) e da fé dos fiéis.

Com efeito, como ensinava o Papa Pio XII na sua encíclica “Mediator Dei” sobre a liturgia: “LEX ORANDI, LEX CREDENDI”, “A lei da oração determina a lei da fé” e reciprocamente. A influência do canto litúrgico sobre a fé é profunda. Não se pode alterar, mudar, sem grave perigo para as almas o canto litúrgico tradicional da Igreja.

 É por esta razão que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X se esforça por manter o melhor possível o canto gregoriano nas Missas do Domingo e das Festas da guarda; o nosso mais caro desejo é que pouco a pouco seja constituído um coro gregoriano nas nossas capelas; todas as pessoas de boa vontade serão as bem vindas!

“Há um só problema, um só neste mundo, escrevia Saint-Exupery: Tornar a dar aos homens uma significação espiritual, inquietações espirituais; fazer chover sobre eles alguma coisa semelhante ao canto gregoriano... Há um só problema, um só: tornar a descobrir que existe uma vida do espírito maior ainda que a vida da inteligência, a única que satisfaz o homem ”.

O eminente diretor do coro de Solesmes, Dom Joseph Gajard, que tanto fez para espalhar o canto gregoriano neste últimos anos, gostava de citar muitas vezes estas palavras.

O seu desejo era o eco do de São Pio X: “Eu quero que o meu povo reze sobre a Beleza”, a Beleza do Canto da nossa Santa Madre a Igreja Católica, inflamada do Amor do Espírito Santo. “Eu vim trazer fogo à terra, e o que quero eu senão que se acenda? ”, exclamou Nosso Senhor Jesus Cristo (Lucas, 12,49).

 

 Pe. Bertrand Labouche








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