Cidadãos do Infinito




Heresias na Igreja
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08/01/2012
É PECADO SER TRADICIONALISTA OU É PECADO SER OPORTUNISTA?
Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa


 

Parece que o aumento do número de católicos que tomam consciência nestes últimos anos dos problemas doutrinários que flagelam a Igreja sobretudo a partir do Vaticano II incomoda a certos senhores.

Observa-se hoje que há católicos que começam a perceber que a crise da Igreja atualmente é tão grave e se revela uma crise de identidade. Quer dizer, não se sabe mais o que é ser católico e perdeu-se uma linha de continuidade entre a Igreja de ontem e a Igreja de hoje. Não só nas formas exteriores acidentais mas também no núcleo doutrinário. O problema é tão sério que o Papa Bento XVI chegou a falar de uma hermenêutica da descontinuidade na leitura do Vaticano II (cf. seu discurso de Natal à Cúria Romana) e a admitir que se fizesse uma crítica construtiva a esse concílio pastoral. Ora, isto significa dizer que os documentos do Vaticano II são, no mínimo, ambíguos.

Notando tantas mudanças na Igreja, não são poucos os católicos que se perguntam sobre a solidez e perenidade da doutrina. Assim, são levados a comparar o que se ensina hoje com o que se ensinava antes e a prognosticar o que se ensinará amanhã, se o “evolucionismo”  continuar.

Qualquer católico medianamente instruído em rudimentos da sua fé verifica ao menos duas coisas que se apresentam como novidades inauditas na vida da Igreja: uma nova liturgia e um novo ecumenismo. E como hoje em dia, graças à Internet, as informações estão mais acessíveis a todos, sãos inúmeros os católicos que tomam conhecimento dos documentos clássicos da Igreja sobre esses assuntos (por ex. Mediator Dei de Pio XII, sobre a liturgia, a qual condena a prática do altar em forma de mesa ou Mortalium ânimos de Pio XI que define o verdadeiro ecumenismo católico, um esforço para trazer de volta ao seio da única Igreja de Cristo, a Católica, todos os dissidentes, e não um diálogo que visa à edificação de uma nova igreja no futuro, fruto de um consenso entre todos que se dizem cristãos).

Meditando sobre esses documentos do magistério, muitos católicos chegam à conclusão de que, efetivamente, há uma crise na Igreja resultante de uma ruptura senão doutrinária por uma negação explícita do dogma, mas ao menos uma ruptura da tradição na prática religiosa. Com efeito, qualquer católico dotado de uma capacidade mínima de reflexão vê que a “política ecumênica” dos nossos dias não tem a menor preocupação com a unidade e unicidade da Igreja, mas se reduz a um congraçamento entre as várias “denominações” com objetivos filantrópicos, ecológicos seja o que for, menos a séria questão doutrinária com a afirmação clara e corajosa do dogma (que hoje causa horror) fora da Igreja não há salvação. E como, quanto à questão moral, não há consenso entre as “religiões” e prevalece hoje um relaxamento geral dos costumes, há, por parte da maioria dos católicos, uma clamorosa omissão a respeito. Por causa de um rio, um bispo quase comete suicídio. Mas em defesa da inocência das nossas crianças corrompidas pelas aulas de pornografia promovidas pelo governo Lula, não se move uma palha. Nem sequer se fala em penitência por um pecado que brada aos céus e pede a Deus vingança, segundo a expressão do catecismo de São Pio X.

 Digo mais: qualquer católico medianamente inteligente chega à conclusão de que hoje a religião não é mais uma resposta ao problema da salvação eterna, porque isto não é mais considerado nenhum problema. A religião hoje é aceita numa perspectiva utilitarista ou pragmática, quer dizer, vale enquanto ajuda a resolver problemas imediatos de qualquer ordem e deve descartada ou reformada na medida em que estorva  a vida aqui na terra. As “religiões” valem enquanto se unirem e se entenderem para combater o terrorismo, a intolerância, os preconceitos e tabus. E quem recusar essa religião pragmática que usa a Deus para servir e cultuar o homem deve ser perseguido, proscrito, esmagado, atirado a um gueto como infame, misantropo e inimigo da humanidade. Este é o católico a quem se chama pejorativamente “tradicionalista” ou “integrista”, porque simplesmente quer a continuidade integral da religião que os apóstolos receberam de Cristo e se desenvolveu de forma orgânica sob a custódia dos papas. Mas ser taxado de tradicionalista não é vitupério. Ao contrário, é uma honrosa distinção, pois São Pio X escreveu: “Os verdadeiros amigos do povo não revolucionários nem inovadores, mas tradicionalistas.”

Entretanto, devo dizer: há católicos que são capazes de ver que é verdade tudo que disse aqui mas preferem silenciar negar ou até justificar a triste realidade. O problema não está na inteligência mas na vontade. Não querem indispor-se com ninguém, muito menos com a autoridade. Vendem a sua alma por um prato de lentilha ou pela perspectiva de uma carreira brilhante ou por razões mais sórdidas ainda. A propósito, lembro-me de que meu professor de Bioética, na Pontifícia Universidade da Santa Cruz de Roma nos disse um dia que, quando Paulo VI publicou a encíclica Humanae Vitae em 1968, ele (meu professor) estava presente numa reunião numerosa de bispos e somente ele e seu bispo manifestaram-se a favor do documento pontifício. A maioria preferiu hipocritamente guardar silêncio e fazer um trabalho de sapa a fim de não perder as benesses da sua posição. Hoje vemos a doutrina da Humanae Vitae negada escandalosamente pela maioria dos católicos.

Portanto, o pecado, o erro, não é ser tradicionalista. O pecado, o indecente, é ser oportunista.

 







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