Cidadãos do Infinito




Santa Missa
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04/04/2013
O BEM NÃO FAZ BARULHO E O BARULHO NÃO FAZ BEM
É um desastre quando o som da palavra e da música se torna atordoante e ensurdecedor


Artigo do Padre Juarês Martins

Tenho me preocupado muito com o rumo que as nossas liturgias têm tomado nos últimos tempos. Na noite do último natal, fui presidir a Eucaristia em uma comunidade da periferia. A comunidade era muito animada, muito acolhedora. Ao lado da entrada da Capela estava um grupo de pagode tocando animadamente os seus instrumentos, cantando muito alto e tomando suas cervejas.

Como de costume, eu estava na porta da Capela acolhendo as pessoas que chegavam, embora não precisasse muito, pois essa comunidade tem uma boa equipe de acolhida, mas penso que a presença do padre ali, acolhendo os que chegam é fundamental. Enquanto estava ali na porta da Ca pela, comecei a ficar preocupado, pois quando começasse a missa, aquele barulho do grupo de pagode iria incomodar aqueles que ali estavam para rezar.


Conversei com uma senhora muito simpática e querida por todos ali e pedi que ela fosse até o grupo e pedisse a eles para se possível diminuir o barulho quando iniciasse a missa. Eles compreenderam e foram para um outro ponto próximo dali. Fiquei muito feliz afinal iríamos celebrar a missa num clima de silêncio e espiritualidade. A capela era pequena, aproximadamente uns 12 x 8, quando observei bem vi que dentro dela havia 6 grandes caixas de som. Fiquei preocupado, pois pelo tamanho da capela não precisaria de aparelhos de som, ou se tivesse, talvez apenas uma caixa resolvesse, mas seis caixas...


Quando começou a missa e cantou a primeira música eu vi que era um barulho ensurdecedor o Ministério de música era composto pelos instrumentistas e mais 5 pessoas que cantavam, cada uma com o seu microfone, todos no último volume. Tive que ficar o tempo todo com a mão no ouvido para não sair Dali surdo. Mas Deus é e foi misericordioso comigo e com aqueles sofridos ouvidos que ali estavam, e quando chegou a hora do canto de aclamação faltou a energia elétrica, e enfim tivemos o silêncio, quando terminei de proclamar o evangelho não resisti e disse, como Deus é bom, agora podemos rezar em paz.

Diante do alto volume de barulho naquela comunidade, e vendo que embora o entorno da capela era muito populoso, tinham poucas pessoas na Missa do Natal. Comecei a pensar, será que o barulho não seja um dos motivos para o povo não participar? Conversando após a missa com alguns moradores próximos alguns confirmaram isso.

No final cheguei a uma conclusão: Aquele grupo de pagodeiros foi embora não porque percebeu que iria nos atrapalhar, mas sim porque percebeu que nós iríamos atrapalhá-los com o nosso barulho. Que Pena!

Pe. Juarês Martins
Reitor do Seminário Nossa Senhora Aparecida


A esse respeito, veja nas linhas abaixo o que diz o grande liturgista, Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Encontro com Deus

Hoje em dia muitas celebrações litúrgicas, em vez de levarem ao repouso, conduzem a um verdadeiro cansaço, um perigoso estresse. Uma senhora me dizia, em Goiânia, que na terra onde mora, perto de Belém do Pará, as Missas estão se tornando insuportáveis devido ao estrépito, à barulheira do canto, dos conjuntos musicais, além de comentários intermináveis e avisos que não terminam. Às vezes, ainda consegue levar o marido à Missa, diz ela, mas a certa altura ele diz: "Mulher, não agüento mais, vou embora". De fato, levanta-se e se retira.

Ora, a sagrada Liturgia não constitui um espetáculo. Toda a assembléia celebrante brinca diante de Deus e em Deus. A Liturgia não é conquista humana. Não é eficaz pela força das palavras como se fosse uma conquista. É obra de Deus, puro dom divino, Deus mesmo a ser acolhido. A Liturgia leva a assembléia ao repouso em Deus e não ao cansaço, ao estresse do esgotamento físico e psíquico.

Na ação litúrgica já participamos do "repouso" prometido por Deus a seu povo (cf. Sl 94). Ela conduz à tranqüilidade, ao descanso, ao sossego da comunhão de vida e do amor com Deus e em Deus. Seu desenrolar aos poucos vai aquietando os corações dos que chegam à assembléia celebrante cheios de tensões causadas pela vida agitada, pelas preocupações do dia-a-dia.

Aos poucos, na escuta da Palavra de Deus, o coração se deixa reconciliar, estabelece-se novamente a harmonia com Deus, com o próximo e com toda a criação. Os participantes acolhem a Palavra e a deixam aninhar-se no seu coração. Todos vão se deixando enlevar pelo ritmo dos diversos ritos, que estabelecem o clima de oração, melhor, que constituem oração, relação efetiva e afetiva com Deus por Cristo e em Cristo Jesus.

Por isso, as nossas celebrações devem voltar a ser mais contemplativas dos mistérios de Cristo que se tornam presentes, onde entrará sobretudo a linguagem da escuta atenta, da acolhida, da contemplação, dos ritos em si mesmos, inclusive, do silêncio.

A celebração cristã não pode estar repleta de estímulos externos, de estrépito, de barulho, repleta de ruídos. Evitar-se-ão toda surpresa, toda quebra do ritmo do rito, toda interrupção do fluir da relação orante com Deus através de todas as faculdades e todos os sentidos, embalada pelo ritmo do rito. A palavra, o som, o canto e a música constituem apenas um aspecto da participação ativa.

É um desastre quando o som da palavra e da música se torna atordoante e ensurdecedor. Isto não leva ao repouso em Deus, mas a maior tensão, ao estresse. As pessoas deixam a celebração mais tensas do que quando chegaram.

Diria que a participação ativa é antes uma acolhida passiva do dom de Deus, do próprio Deus no coração, deixando-se envolver por Deus, revestir-se de Deus, fazendo sua a glorificação prestada por Jesus Cristo ao Pai. Deus não se agrada com um culto de multiplicação de palavras. Compraz-se com um coração contrito e humilhado.

Toda celebração litúrgica, particularmente a Eucaristia, possui uma dinâmica interna. O início pode ser mais vivo para despertar e motivar a celebração. Aos poucos, porém, a partir da escuta e da contemplação dos mistérios, brota a resposta orante de admiração, de adoração, de louvor, de ação de graças. Comer e beber juntos exige tranqüilidade, sossego, satisfação, plenitude.

Assim, toda a assembléia flui para o repouso, a comunhão, a linguagem do coração, a linguagem do esposo e da esposa, para o silêncio profundo da satisfação em Deus. Acontece, então, a reconciliação total, o descanso, o repouso em Deus. O coração e a alma se retemperam em Deus, se fortalecem com o dom de Deus. Assim, reconciliadas, as pessoas podem retornar à luta do dia-a-dia.

Fonte: Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Fonte: http://seminariodiocesanodecampolimpo.blogspot.com

 


 




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